sábado, 4 de dezembro de 2010

Atenção às sutilezas

Atenção às sutilezas

por Mônica Pupo
Pequenos gestos e atitudes podem garantir o diferencial de um negócio e o seu sucesso é o que afirma o consultor empresarial Renato Fonseca Andrade
Foto: Divulgação | Para fazer sucesso no mercado hoje em dia não basta apenas oferecer bons produtos e serviços. Brigar pelo menor preço também já não faz tanto sentido. Afinal, muitas pessoas preferem pagar um pouco mais a perder tempo atrás de ofertas. Além disso, a internet quebrou as fronteiras geográficas do consumo, intensificou a concorrência e revolucionou a comunicação corporativa, sobretudo com a popularização das redes sociais. Com tantas mudanças e novidades em jogo, o perfil do empreendedor também tem se transformado. Mais do que dominar técnicas de gestão, para prosperar no mercado atualmente é preciso dosar sensibilidade, jogo de cintura e poder de observação.
São estes os motivos que levam Renato Fonseca de Andrade a afirmar que, “mais do que nunca, o segredo do sucesso está nas sutilezas”. Consultor empresarial, professor e autor do livro Conexões empreendedoras (Ed. Gente), ele acredita que, na maioria das vezes, são pequenos gestos e atitudes que garantem o diferencial de um negócio. “As empresas devem ser construídas de fora para dentro, e não o contrário, sempre atentas às necessidades e desejos do público, pois é justamente aí que residem as sutilezas e, em consequência, as oportunidades.”
Uma excelente forma de estabelecer contato com o público em busca das tais “sutilezas” é através das mídias sociais. Além de uma excelente ferramenta de relacionamento, sites como Twitter e Facebook – só para citar os mais populares – também são úteis na hora de inovar. “A tecnologia nos trouxe a possibilidade da prática da inovação aberta, que permite contar com a participação de especialistas no mundo inteiro ou clientes e parceiros”, afirma.
Na entrevista a seguir, Andrade fala sobre a importância da conexão e do compartilhamento de ideias no mundo corporativo. Além disso, ele define o perfil do empreendedor nesse contexto “hiperconectado” e aponta os segredos para identificar sutilezas e se sobressair no mercado.
Como pensa e age o chamado “empreendedor consciente”?
Renato Fonseca de Andrade – O empreendedor consciente é aquele que tem clareza sobre a melhor maneira de construir ou desenvolver um futuro negócio. Até porque hoje em dia a questão não é mais ‘como eu abro uma empresa’; a pergunta é: ‘como eu ganho dinheiro com essa empresa?’ E esse profissional sabe exatamente o que fazer para gerar lucro e prosperar. São pessoas que se diferenciam por dominar todas as sutilezas que envolvem o ramo de atividade no qual pretendem ingressar.
O que são essas sutilezas?
Renato Fonseca – Cada vez mais os produtos tornam-se commodities; portanto, estar atento às sutilezas é cada vez mais importante em qualquer ramo de atuação. Cada ramo de atividade, segmento e região tem suas características distintas e específicas em relação ao público-alvo do produto ou serviço em questão. Mas, de modo geral, trata-se de trabalhar outros valores e serviços que o cliente valoriza, e não somente brigar pelo menor preço, o que requer uma certa dose de sensibilidade por parte do empreendedor.
Como é possível identificar essas sutilezas e se destacar no mercado?
Renato Fonseca – Para quem está iniciando no mundo dos negócios, recomendo fazer uma imersão no segmento que se pretende atuar. Quando falo em imersão, não significa simplesmente fazer uma pesquisa, mas sim uma vivência cotidiana junto a fornecedores, clientes e pessoas que trabalham na área. É importante também observar atentamente a localidade e conversar com futuros clientes. Tudo isso ajuda a perceber as sutilezas do mercado. Vamos supor, no caso de uma mecânica de automóveis, a entrega do veículo no prazo correto, por exemplo: é uma sutileza que pode ser extremamente valorizada por determinado público. Isso também funciona para as empresas imobiliárias. São pequenas atitudes que fortalecem demais a marca e diferenciam a empresa no mercado.
Qual a diferença entre ideia, oportunidade e viabilidade?
Renato Fonseca – São termos muito específicos, diferentes entre si e que se referem a etapas distintas da implementação de um projeto empreendedor. Uma oportunidade existe quando identificamos o desejo ou a necessidade de alguém pelo produto ou serviço que pretendemos oferecer. Até aí tudo se resume a uma ideia. É por isso que insisto para que as empresas sejam construídas de fora para dentro, procurando sempre entender o público. A oportunidade surge a partir do momento em que começamos a identificar as sutilezas do mercado e do público-alvo. Só que até então isso não quer dizer muita coisa, já que a ideia e a oportunidade podem ser inviáveis, invalidando o projeto. Por isso a análise de viabilidade é fundamental. Eu posso, por exemplo, não ter a tecnologia adequada na localidade, ou não dispor de recursos financeiros suficientes, ou não ter acesso às matérias-primas, etc.
Em sua obra você afirma que os avanços tecnológicos do século 21 colocaram em xeque o perfil do “antigo empreendedor”. O que mudou?
Renato Fonseca – Costumo utilizar a metáfora do “antigo” e “novo”, mas vale lembrar que isso não tem absolutamente nada a ver com idade. Trata-se de uma questão de mentalidade, de se manter aberto às novas oportunidades que estão surgindo, principalmente com o advento da internet 2.0 e das mídias sociais. O empreendedor “novo” tem uma mentalidade muito ligada à conexão. São pessoas com grande capacidade de utilizar os meios digitais que temos à disposição para fazer conexões. Eles interagem com o público a partir de outra perspectiva, dividindo tanto as coisas boas como os momentos difíceis. O “antigo” empreendedor segue a lógica do “megafone”, ou seja, apenas fala – não escuta – e constrói a empresa de dentro para fora. Se minha empresa vai lançar um produto novo, por exemplo, eu já posso colocar isso no Facebook, ou pedir a opinião dos meus seguidores no Twitter.
Se a ordem é compartilhar, como fica o sigilo comum à fase de desenvolvimento de novos projetos?
Renato Fonseca – Essa é uma questão muito polêmica. É claro que é preciso avaliar caso a caso, mas, de modo geral, a princípio eu aposto no compartilhamento da ideia. É preciso perder o medo de que roubem a ideia. Até porque isso é quase inevitável, pois quando você lançar o produto, a concorrência terá acesso da mesma forma, e daí a poucos dias ou semanas pode lançar um produto similar. Sendo assim, você tem mais benefício do que prejuízo ao compartilhar uma ideia. O benefício da interação e do pioneirismo em interagir com o público, aperfeiçoando e aprendendo, isso tudo supera o risco da concorrência ter acesso às informações do lançamento. É muito melhor investir em um produto que o próprio cliente ajudou a construir do que em um projetado unicamente por engenheiros e executivos.
Como estabelecer relacionamentos interpessoais de qualidade no mundo corporativo?
Renato Fonseca – Existem algumas regras de ouro dos relacionamentos. E a primeira delas é ter uma atitude de doação. Quem constrói redes confiáveis são pessoas que adotam a postura de contribuir com um determinado grupo de pessoa. Quando falo doação, trata-se muitas vezes de estratégias simples, como dar um conselho, uma atenção, conversar, atender um telefonema, ou seja, perceber que o outro está com uma necessidade. São gestos desse tipo que criam confiança e reciprocidade. Até porque não adianta nada ter mil contatos numa rede social se na hora em que eu preciso não há ninguém realmente confiável que eu possa contar. A tendência é ficarmos presos à nossa rede mais próxima. Mas a ideia é ultrapassar esses limites e partir para conexões com outras redes em busca de acesso a coisas diferentes, mas sempre com a atitude de doação, não de aproveitamento ou oportunismo.
Quais são os erros mais comuns que as empresas cometem nas mídias sociais?
Renato Fonseca – Um dos principais erros cometidos pelas empresas é utilizar as redes sociais como forma de autopromoção pura e simples, ou seja, insistem em falar somente sobre a área de atuação da companhia, os produtos e serviços que oferecem, os prêmios e resultados que atingiram, etc. Muitas empresas ainda confundem autopromoção com a comunicação que o cliente espera encontrar nessas ferramentas digitais. O segredo, antes de tudo, é estabelecer diálogo nas mídias sociais. O Twitter, por exemplo, deve ser gerador de conteúdo, orientação e ajuda para os seguidores, e não funcionar simplesmente como um canal de vendas, embora iniciativas neste sentido também sejam válidas. Outro erro muito comum é criar um blog ou um perfil no Facebook durante uma determinada ação e abandoná-lo depois. Por este motivo, é cada vez mais necessário que as empresas criem departamentos ou cargos específicos para administrar as redes sociais. Ou, no mínimo, que invistam numa política de comunicação.
Quais redes sociais são fundamentais para uma empresa hoje?
Renato Fonseca
 – Observamos um crescimento exponencial do Twitter, que tem se mostrado um excelente canal de comunicação corporativa. O Facebook também está adquirindo uma grande popularidade no Brasil, atraindo empresas de diferentes portes e ramos de atuação. O blog não pode ser deixado de lado, pois é uma ferramenta maravilhosa para promover a comunicação empresa-cliente.
Qual o segredo para ganhar dinheiro com as mídias sociais?
Renato Fonseca
 – O primeiro passo é entender como funciona a comunicação no mundo um-a-um. Não é simplesmente entrar na rede social, achar que vai vender produto e pronto. Esse pode até ser um dos objetivos, mas não deve estar em primeiro lugar. O ponto é: como eu interajo com as pessoas que enfrentam a necessidade que me proponho a solucionar? É preciso ainda entender como funciona o ambiente das redes sociais e de que forma as empresas se comunicam com o mercado.
Como será o futuro das empresas com a evolução das mídias sociais?
Renato Fonseca
 – A conexão é o caminho inevitável. Estaremos cada vez mais próximos das empresas e vice-versa. Será uma realidade sem fronteiras, onde não haverá sequer a fronteira do balcão. A empresa do futuro certamente será hiperconectada. E o marketing, de modo geral, será revolucionado. A pesquisa de mercado, por exemplo, deverá ser repensada, uma vez que será possível acompanhar o público on-line e em tempo real.
Linha direta:
Renato Fonseca de Andrade: www.conselheirocriativo.com.br

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